O Cais de Desembarque do Terreiro do Paço no Circuito do Gelo
«Um cais que, partindo do ponto a montante da Alfândega, seguia em linha reta até à Ribeira das Naus, deixando dois grandes cais salientes para desembarque, com escadas, um em frente da Alfândega e do Jardim do Tabaco, outro em frente do Paço Real.»
[De um projeto do engenheiro e arquiteto Carlos Mardel, em 1726]
Entre os séculos XVIII e XIX, no período de funcionamento da Real Fábrica de Gelo de Montejunto, o cais de desembarque do Terreiro do Paço – alvo de modernização durante o reinado de D. José I – constituía a primeira etapa para a distribuição do gelo natural, assim que aportava a Lisboa, depois de atravessar o Tejo nos «barcos da neve». Este ponto de chegada era o culminar de um processo complexo e demorado. Primeiro, o gelo era recolhido pelos aldeãos de Pragança (Cadaval) dos tanques de congelação e ficava armazenado todo o Inverno nos silos da Real Fábrica. No começo do Verão, o gelo era compactado, cortado e envolvido em palha, feno e serapilheira, para que os blocos se conservassem durante o percurso até à capital, que demorava cerca de 12 horas. Começava então o transporte: primeiro, a descida da Serra de Montejunto, em carros puxados por mulas; chegado ao cais da Vala do Carregado, o gelo era transferido para as embarcações, atravessava o rio e chegava até aqui, sendo levado para a Casa da Neve, de onde era distribuído para abastecimento da Casa Real, dos melhores cafés e do Hospital de Todos os Santos, situado na Praça da Figueira e destruído pelo Terramoto de 1755.