Glossário: As palavras da produção e do comércio do gelo
Almocreves
As pessoas que asseguravam o transporte de mercadorias em animais de carga. Neste caso, trata-se dos encarregados do transporte da neve até Lisboa.
Arrátel
A unidade de medida que se usava, na época de laboração da fábrica, para medir as quantidades de gelo.
Augusto Frederico Rodrigues Lima
O último proprietário da fábrica, que nos últimos anos deixou de produzir gelo e funcionava apenas como terreno agrícola.
Barcos da Neve
Designação que se dava às embarcações que transportavam os blocos de gelo na travessia do Rio Tejo, entre a Vala do Carregado e o Terreiro do Paço. O trajeto demorava doze horas.
Cal
Era produzida na própria fábrica, no forno de cal, e servia para revestir os silos de armazenamento, garantindo a sua higienização. Também foi usada nas argamassas de construção do edifício de produção e conservação do gelo.
Caramelo
Designação que se dava às placas de fina espessura que se formavam nos tanques de congelação, quando durante a noite, no Inverno, a água que continham gelava.
Casa da Neve
O local em Lisboa que recebia os blocos de gelo depois de atravessarem o Tejo. Mais tarde, aqui foi edificado o Café Martinho da Arcada, que ainda hoje está em funcionamento.
Casa Real
No auge de laboração da fábrica de gelo, o regime que vigorava em Portugal era o monárquico. Sendo o gelo, nesta altura, um produto considerado precioso, era sobretudo a realeza quem dele beneficiava. O gelo que se produzia na fábrica de neve abastecia em primeiro lugar a Casa Real, e só depois alguns (muito poucos) cafés e hospitais.
Covões
Poços de neve, ou depressões de origem glaciar. Deviam ser limpos com regularidade e manter-se bem cobertos, para conservar o gelo.
João V
A fábrica de neve começou a laborar ainda durante o reinado de D. João V.
José I
O período de maior laboração da fábrica de neve coincidiu com o reinado de D. José I.
Fábrica da neve
Designação alternativa comum para a fábrica de gelo. A sua origem está nas unidades pré-industriais europeias que recolhiam e armazenavam neve natural.
Julião Pereira de Castro
O grande proprietário da Real Fábrica de Gelo de Montejunto, que esteve nas suas mãos mais de cinquenta anos. Desempenhou o cargo de neveiro-mor do reino desde 1756, e abasteceu de gelo a casa real durante muitas décadas. Foi ele o responsável pela ampliação do complexo em 1782, e pela construção do edifício de produção e conservação do gelo.
Neveiros
Eram os comerciantes do gelo, responsáveis pelo chamado «negócio da neve». Além do neveiro-mor da Casa Real, havia os neveiros da cidade e os neveiros do povo.
Nora
Engenho de extração da água dos poços, fundamental para a fábrica de gelo. Era constituída por uma roda de tração animal (um burro), que por sua vez era composta de alcatruzes, ou seja, pequenos reservatórios de água que baixavam aos poços vazios e regressavam cheios, vertendo então essa água para uma caleira, que depois a vazava para o depósito, antes de ser distribuída pelos tanques de congelação.
Palha, feno e serapilheira
Era nestes materiais que se embrulhavam os blocos de gelo antes de serem expedidos para Lisboa. Evitavam que o gelo derretesse rapidamente, conservando-o durante as longas horas da travessia entre a Serra de Montejunto e o Terreiro do Paço.
Pragança
A aldeia mais próxima da fábrica de gelo, de onde chegavam, a pé e durante as frias noites de Inverno, os trabalhadores que recolhiam o «caramelo» dos tanques de congelação e o transportavam até aos silos de conservação.
Silos, ou poços
As fundas estruturas que albergavam o gelo depois de recolhido e o conservavam nas melhores condições durante todo o Inverno. Quando chegava a estação quente, o gelo era retirado dos silos e então cortado, compactado e embalado, para ser enviado para Lisboa.
Tanques de congelação, ou geleiras, ou tabuleiros
Designa as 44 unidades do engenhoso sistema de recolha da água extraída dos poços, que era distribuída sequencialmente, em cascata, ao longo destes vários tanques de pouca profundidade (30 centímetros). Cada tanque é independente, mas intercomunicante. Na época, tratava-se de um sistema de engenharia altamente sofisticado.
Vala do Carregado:
Depois de embalados, os blocos de gelo eram conduzidos através da Serra de Montejunto, em carros puxados por mulas, até chegarem a este local, onde no século XIX foi instalado um cais. Era o último ponto de paragem dos blocos de gelo, antes de atravessarem o Tejo nos «barcos da neve» e aportarem ao Terreiro do Paço.